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PBH avança na busca por controle da infestação de árvores pelo besouro metálico
Daniel Alves/PBH

PBH avança na busca por controle da infestação de árvores pelo besouro metálico

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A Prefeitura de Belo Horizonte já vem colhendo os primeiros resultados de vários anos de uma pesquisa realizada na Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB) para definição de estratégias de controle e combate de uma das mais recentes pragas urbanas descobertas: a infestação de árvores pelo besouro Euchroma gigantea, popularmente conhecido como besouro metálico, considerado um dos maiores coleópteros do mundo. O inseto já causou a morte e destruição de milhares de árvores nas áreas urbanas da capital mineira e em várias outras cidades do Brasil, colocando a população em risco.

Depois de quase oito anos de pesquisa, conduzida de forma inédita pela engenheira agrônoma Maria Aparecida Rocha Resende, do Jardim Botânico da FPMZB, espécimes arbóreas infestadas pelo inseto monitoradas dentro do estudo mostram os primeiros sinais de recuperação dos danos causado pela praga. O resultado foi possível após a aplicação de uma primeira leva de compostos – um de origem química e outro de origem biológica – utilizados no tronco por meio do método chamado de Endoterapia (técnica de tratamento através da injeção no tronco das árvores em área específica e direcionada da planta, sem acometimento de partes não afetadas).

Um baobá, localizado na área da Zoobotânica, infestado pelo inseto e tratado pela pesquisadora, floresceu e frutificou em fevereiro deste ano – fato inédito em pelo menos 15 anos de acompanhamento da árvore – e vem mantendo sinais de saúde até o momento. Outro exemplo é uma munguba também localizada nesse espaço que apresentou regeneração das galerias criadas pelo besouro quando ataca o tronco da árvore. 

Testes realizados há cerca de dois anos exclusivamente em laboratórios do Jardim Botânico e em árvores situadas dentro da Zoobotânica de BH têm sido fundamentais para viabilização e obtenção dos resultados da pesquisa na tentativa de controle do inseto e sinalizam para resultados positivos quanto ao controle da infestação e do acometimento das plantas atacadas.  As árvores que estão sendo tratadas com os compostos são exemplares de mungubas (Pachira aquática), paineiras (Ceiba speciosa), e baobás (Adansonia digitata L.) e vêm sendo monitorados há mais de cinco anos dentro do estudo.  

Os testes estão sendo realizados por Maria Aparecida, em parceria com o Dr. prof. Fernando Valicente, pesquisador da Embrapa Sorgo Milho/MG; com o Dr. prof. Antônio Euzébio Santana, da Universidade Federal de Maceio/Al e com a Empresa BayControl que, por meio de do Programa Parceiros da Natureza da FPMZB, viabilizou o uso de um equipamento importado específico para a Endoterapia nas árvores, garantindo maior eficiência nos testes. 

Nas três espécies de árvores selecionadas para o tratamento já foi percebido algum sinal na fisiologia da planta indicando recuperação do dano causado pela praga, após o uso da técnica com apenas uma etapa de aplicação de uma combinação de ambos os compostos. “Não podemos ainda afirmar a relação dos fatos de forma categórica, mas é um sinal bastante positivo notar que a árvore, após os testes, passou a seguir o processo natural da evolução da planta e, ainda, de regeneração das lesões nos troncos das árvores, diminuição de queda dos galhos, dos troncos, das folhas e do abortamento dos frutos, apresentando aumento na formação da copa, sem sinais aparentes da atividade e presença dos insetos adultos, larvas, pupas e posturas”, comenta a pesquisadora da FPMZB. 

Todas essas características, portanto, sinalizam para um quadro de melhora da saúde e desenvolvimento fisiológico da árvore que havia sido atacada pelo besouro. “Seguiremos com os testes com técnicas e compostos distintos, concomitantemente, e consolidando e monitorando os resultados para, em breve, poder publicar as novas descobertas e avançar numa solução viável em nível de aplicação urbana com eficácia e segurança”, finaliza Maria Aparecida. 

Resultados indicam avanços no controle da praga

Após anos de estudos da biologia do inseto, a pesquisadora Maria Aparecida Resende Rocha, da FPMZB,  conseguiu o desenvolvimento de todo o ciclo de vida do Euchroma gigantea com a criação do inseto em laboratório oferecendo apenas alimentação natural. Paralelo à criação, foram estabelecidas parcerias com pesquisadores de outras instituições para elaboração de métodos de controle na tentativa de preservação das árvores e mitigação dos danos e riscos para população, para o patrimônio público e para o meio ambiente. Os dados coletados ao longo dos últimos oito anos, portanto, foram essenciais para entender o comportamento do animal e direcionar a pesquisa por uma alternativa de controle com agilidade e eficiência para o ponto em que hoje se encontra. 

Os resultados mais promissores na busca por uma solução para o controle da praga urbana têm vindo do uso de inseticidas – tanto de origem química quanto biológica – por meio da endoterapia. Os testes seguem sendo realizados na FPMZB pelos pesquisadores com o uso de ambos os produtos, uma vez que cada um poderá ter indicação de uso específica e distinta, conforme o caso e localização das árvores infestadas, levando-se em conta o ecossistema local. 

O composto de origem química, se aprovado no futuro, poderá ser usado em casos de acometimento mais severo da árvore, que requeiram urgência e necessitem de intervenção mais imediata e/ou em árvores localizadas em área de baixo impacto para o ecossistema do entorno. O outro, de origem biológica, foco da pesquisa nesse momento, já mostra ter uma aplicação e uso mais seguros para o meio ambiente, com potencial para amplo uso, garantindo mais segurança à fauna e à flora, bem como para o solo. Por ter ação mais lenta, o biológico poderá ser usado em casos de infestação de grau intermediário ou leve, e, possivelmente, de forma preventiva nas árvores mais susceptíveis. 

As aplicações dos produtos foram realizadas nas árvores da Zoobotânica em 2022 e 2023 e contaram com o apoio da empresa BayControl, parceira na pesquisa. Os compostos são injetados nas árvores infestadas por meio de cateteres diretamente no tronco das árvores, ao longo de toda sua circunferência, permitindo tratar toda infestação da planta. Isso garante a aplicação sistêmica (interna) do produto, sem contaminação de solo ou outras espécies. Após a aplicação, são retirados os cateteres e deixam-se os arboplugs (pequenas aberturas para passagem dos cateteres) para possíveis novas aplicações. Numa segunda aplicação, não será necessário criar novas passagens no tronco, preservando ainda mais a integridade e a saúde da árvore. 

No momento, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica está focada em avaliar os resultados e o tempo de uso necessário para um percentual elevado satisfatório com o uso do composto orgânico, que traz menos impactos à fauna e à flora do ecossistema local. 

O besouro e a infestação em BH

O besouro Euchroma gigantea, também conhecido por besouro metálico, chama atenção por sua cor iridescente e porte exuberante. Até então pouco conhecido pela literatura científica, teve seu primeiro relato técnico em BH realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em 2013, ocasião em que passou a chamar a atenção dos profissionais e técnicos da Prefeitura de Belo Horizonte. 

Os insetos adultos alimentam-se dos caules, folhas e flores, enquanto as larvas buscam o alimento nos troncos e nas raízes das árvores, tendo preferência pelas mungubas (Pachira aquatica) e pelas paineiras (Ceiba speciosa), formando extensas galerias que deixam as árvores ocas e com risco de queda em vias públicas, colocando em perigo a população de Belo Horizonte. 

Em 2016 a capital mineira foi alertada pelo Grupo Executivo de Áreas de Risco – GEAR (comitê de gerenciamento de riscos da PBH em áreas específicas e em períodos chuvosos) sobre a intensificação da presença do besouro em centenas de árvores na capital mineira. Diante do risco da queda das árvores frente à presença da praga e à chegada do período chuvoso, com ventos fortes e temporais, os órgãos competentes do poder executivo municipal de BH formaram uma comissão para mitigar os riscos de queda das arvores nas áreas urbanas. Um dos integrantes convidados foi a pesquisadora Maria Aparecida, da FPMZB, que decidiu dedicar-se ao estudo do inseto para contribuir para os trabalhos do grupo e para a cidade. “Entendi que, para controlar qualquer inseto, seria necessário conhecer previamente sua biologia e seus hábitos e foi isso que deu início, no ano 2016 no Jardim Botânico da FPMZB, à pesquisa que acabou se tornando referência no Brasil sobre este besouro. Temos a expectativa de que logo teremos métodos efetivos para controlar este inseto e outras pragas que levam à queda e à supressão de tantas árvores nas áreas urbanas de nossa cidade”, comenta Maria Aparecida.  

A pesquisa teve como ponto de partida no ciclo de vida do Euchroma gigantea justamente pela inexistência de informações consistentes sobre o inseto. Segundo a pesquisadora e engenheira agrônoma, atuante no Jardim Botânico da Prefeitura de BH, o objetivo inicial e prioritário naquele momento da pesquisa era acompanhar e monitorar o besouro para descobrir se seria mais eficaz combater o inseto na fase adulta ou na fase larval. Uma das primeiras descobertas na ocasião foi que, quando se sente ameaçada, a fêmea deposita os ovos, rapidamente, eles se aglutinam formando uma massa resistente, dura feito cimento (forma de preservação da espécie).

 A pesquisa também mostrou que o ciclo do inseto é muito longo, pode durar mais de um ano da postura dos ovos até a morte do adulto. Outra descoberta importante foi saber diferenciar as fêmeas dos machos através de um sinal a olho nu.  

Com o avanço dos estudos, a pesquisadora conseguiu realizar a reprodução do besouro em laboratório, o que facilitou a observação e a compreensão de todo o comportamento do inseto em todo o ciclo de vida, desde a postura de ovos até a morte, além do comportamento nas diferentes épocas do ano e sob diversas circunstâncias distintas. “Isso nos mostrou o potencial de rápida multiplicação do besouro, ao mesmo tempo em que implicou a necessidade de intensificação das ações até então disponíveis para o controle, como a catação e o monitoramento das árvores”, explica Maria Aparecida. 

Uma segunda etapa da pesquisa teve o objetivo de descobrir métodos efetivos de controle da praga. Com ajuda de vários pesquisadores e colaboradores, várias possibilidades de controle estão sendo testadas e avaliadas nesse momento pela pesquisadora e seus parceiros, tais como: 

- Uso de uma substância química, que é um feromônio, para atrair o besouro adulto e facilitar a catação do inseto (método elaborado pelo Dr. Prof. Antônio Euzébio da Universidade Federal de Alagoas); 

- Uso de uma substância química biológica ou natural d- Bt (bacillus Thurringiensis), que não possui nenhum efeito tóxico para planta nem para o meio ambiente (em testes pela pesquisadora Maria Aparecida Resenda, da FPMZB/PBH em parceria com o Dr. Prof. Fernando Valicente da Embrapa Sorgo Milho); 

- Desenvolvimento e uso de um produto homeopático (nosódio/bioterápico, medicamento feito com o próprio besouro) elaborado pela engenheira agrônoma Marina Portugal, especialista em homeopatia em plantas, da Fundação de Parque Municipais e Zoobotânica.