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Dois homens e uma mulher em oficina de arte do Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas - Cersam AD Nordeste.
Foto: Mara Damasceno/PBH

Oficinas de arte estimulam autonomia de usuários do serviço de saúde mental

criado em - atualizado em

“Eu me descobri nas artes, nos trabalhos manuais. Gosto de pintar, de transformar os objetos. Aqui nas oficinas eu encontro a paz que preciso e começo a enxergar novas possibilidades”. O depoimento é de Maria Helena*, 39 anos, assistida há um ano e sete meses pelo Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas - Cersam AD Nordeste. Marina Helena*, assim como diversos outros usuários, é uma assídua frequentadora das oficinas que desempenham importante papel no tratamento dos pacientes.

 

Glaicon Webert Perreira exerce a função de Arte Educador no Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas Nordeste há quatro anos. Ele coordena o trabalho desenvolvido nas oficinas de arte e o que não falta é criatividade. “Aproveitamos todos os materiais, inclusive os trazidos pelos próprios assistidos como telhas, caixotes de madeira, garrafas pets e pedaços de tecidos. Aqui, tudo ganha vida e se transforma. Estimulamos a liberdade de expressão, a autonomia, o olhar crítico e a criatividade”, ressalta Glaicon.

 

Os projetos desenvolvidos são formulados a partir dos desejos dos usuários e, aos poucos, a arte deixa fluir o seu poder de transformação. “É visível a melhora no quadro clínico de muitos assistidos que se envolvem com os trabalhos manuais. Esse tipo de ocupação reduz o ócio, diminui a ansiedade e proporciona satisfação e convivência”, garante o Arte Educador, que propôs um novo desafio aos usuários do Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas Nordeste: requalificar cerca de 20 mesas e 80 cadeiras velhas.

 

A mistura de cores e os desenhos já estão em muitas cadeiras e mesas. São trabalhos que têm gerado resultados surpreendentes e têm agradado a todos. “Há usuário do serviço, inclusive, que já declarou o quanto está feliz com a iniciativa e que prefere ficar aqui fazendo a sua arte do que ir para as ruas fazer uso de alguma droga. Esse tipo de depoimento nos traz uma alegria imensa, pois reflete o esforço da equipe em desenvolver um trabalho pautado na liberdade, no cuidado integral, na coparticipação e na valorização do paciente”, disse Marina Marques Soares, enfermeira do Cersam-AD Nordeste. Para ela, a promoção da autonomia do indivíduo, o resgate da sua cidadania e a sua inclusão social são os grandes desafios que devem ser permanentemente perseverados.

 

 

Funcionamento

O Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas - Cersam AD Nordeste (rua Joaquim Gouvêa, 600, bairro São Paulo) funciona 24h, todos os dias da semana, acolhendo as demandas da região Nordeste e Norte. A unidade oferece tratamento específico para a redução de danos ocasionados pelo uso abusivo de álcool e outras drogas. O objetivo é promover a estabilização do quadro clínico, a reconstrução da vida pessoal, o convívio e a reinserção social, além do suporte necessário aos familiares.

 

A demanda surge de forma espontânea ou por encaminhamento dos serviços de saúde, como as Unidades de Pronto Atendimento e os Centros de Saúde. São ofertadas as seguintes modalidades de tratamento, conforme cada caso: permanência somente durante o dia, atendimento ambulatorial e hospitalidade noturna.

 

O Cersam AD Nordeste possui uma equipe de 67 profissionais conta com psicólogo, médicos psiquiatra e clínico, enfermeiro, assistente social, terapeuta ocupacional, técnicos de enfermagem, redutor de danos, arte educador, farmacêutico e pessoal administrativo.

 

O trabalho envolve muita dedicação e as ações diárias são compartilhadas e integradas com as políticas públicas de forma intersetorial. Integram o tratamento, além da medicação, as oficinas de arte, rodas de conversa, passeios, atendimentos individuais e coletivos, assembleias para firmar os pactos diários, acolhimento dos familiares e grupos de convívio.

 

*Nome fictício

 

07/02/2019. Oficinas de arte estimulam autonomia e autoestima de usuários da saúde mental. Fotos: Mara Damasceno/PBH