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Onze umlheres participantes do grupo de canto Cigarras da Vitória, com blusa branca e saia florida; ao centro, homem com camisa azul e branca e chapéu.
Foto: Divulgação PBH

BH em Pauta: Alunas do EJA integram grupo de canto de escola

criado em - atualizado em

A cada noite de quinta-feira, um grupo de mulheres com idade entre 41 e 79 anos se reúne para uma atividade especial na Escola Municipal Professora Helena Abdalla, no bairro Jardim Vitória, regional Nordeste da cidade. Estudantes e ex-alunas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), programa educacional da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), elas integram o grupo de cantoras Cigarras do Vitória e, semanalmente, ensaiam um vasto repertório de cantigas populares. O grupo surgido há oito anos busca resgatar a memória e a história de gerações passadas e, para as integrantes, dá ainda mais sentido para a vida escolar.

 

Das 22 integrantes, 18 são alunas da EJA – as outras quatro são ex-alunas, mas fazem questão de permanecer no grupo. Para fazer ecoar as melodias e encantar o público, essas senhoras não precisam de tambores, violões ou qualquer instrumento musical. Elas encantam exclusivamente com o poder da voz. Embora elas não tenham formação em música, a vice-diretora da escola, Luciana Beatriz Cardoso Rodrigues, garante que as alunas dão show a cada apresentação: “As apresentações são muito bonitas e elas agradam a todos por onde passam”, elogia. 


Mais do que uma atividade extracurricular, contudo, a participação no grupo é algo que abre o horizonte das cantoras. “É uma atividade que ajuda até na sala de aula, pois elas ficam também mais inteiradas, participativas e desenvoltas. Outro ponto positivo é que essa atividade amplia a visão de mundo delas, pois acabam tendo a oportunidade de se apresentar em espaço nos quais teriam poucas chances de visitar, como casas de shows, teatros e até outras cidades”, complementa Luciana.


Vera Lúcia de Araújo tem 61 anos e é uma das mais entusiasmadas do grupo. Ela garante que a música e os estudos espantaram todos os males que ela tinha. No grupo Cigarras do Vitória há sete anos, Vera diz que ser integrante ajuda nas atividades de sala de aula e até faz melhorar a saúde. “Eu sempre gostei de cantar, mas nunca tinha mexido com música. A professora achou que ia ser bom para ajudar com as aulas e foi mesmo. Eu adoro. Eu tinha pressão alta que não abaixava de jeito nenhum, mas depois que eu comecei a cantar ela ficou melhor. No grupo muitas pessoas melhoraram, até de depressão. Eu não falto a nenhum ensaio e também a nenhuma aula”, explica, animada, a estudante da EJA Ensino Fundamental.


Maria José Ferreira Melo Pereira, 55, entrou no grupo este ano, mas já coleciona experiências especiais. Primeiramente porque a participação no grupo foi uma oportunidade de renascimento para essa dona de casa, que ficou mais de 30 anos sem estudar. Além de se tornar uma “cigarra”, ela se matriculou na Educação de Jovens e Adultos, faz um curso de salgadeira oferecido em parceria com a escola e ainda outro curso sobre tecnologias digitais. O canto das cigarras foi um verdadeiro despertar. 


“Parece que eu estava dormindo para a vida e, de repente, tive um estalo. Eu estou a alguns anos de entrar na terceira idade e percebi que não queria ficar parada. Agora que os filhos cresceram, a minha vida estava meio sem sentido e eu encontrei muitas razões para viver. A participação nas Cigarras também me inspirou, pois muitas das integrantes são idosas, mas todas têm muita energia e é essa energia boa que eu quero ter nos próximos anos da minha vida”, afirma.


Mesmo sem saber cantar as músicas do repertório, a novata Maria José foi muito bem recebida no grupo, que não tem processo de seleção e abraça a todas com carinho. “Quando eu cheguei eu ouvi falar do grupo e perguntei se podia assistir à aula. Elas estavam cantando canções antigas e eu não conhecia nenhuma, mas fechei meus olhos e aquilo me tocou, eu gostei. É uma das coisas que veio para preencher a minha vida”, completa Maria José.


 Sobre o grupo

O projeto “Cigarras do Vitória” teve início na Escola Municipal Professor Milton Lage com a professora Nancy Carneiro Barcelos. Ele nasceu em uma sala de aula, a partir da necessidade de oferecer meios para a motivação das idosas estudantes da EJA. Atualmente, a Escola Municipal Professora Helena Abdalla recebe as matrículas das alunas do grupo, assumindo a responsabilidade pela continuidade do projeto Cigarras Cantoras do Vitória.

 

EJA 

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é ofertada em 119 escolas municipais de Belo Horizonte, majoritariamente no turno da noite, atendendo a mais de 13 mil estudantes. A Secretaria Municipal de Educação conta, também, com turmas no período da manhã e da tarde. No total, são 481 turmas de EJA. A maioria funciona dentro das próprias unidades escolares, mas 66 turmas funcionam em 45 espaços não escolares, tais como Centros Comunitários, Centros de Convivência, Centro de Referência da Pessoa Idosa, Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI), Centros de Referência da Saúde Mental, salões de igrejas, entre outros espaços. Essas turmas em espaços não escolares são vinculadas às escolas municipais.


A matrícula na EJA em escolas municipais pode ser feita a qualquer época do no ano, o que faz com que sempre haja vagas disponíveis. A certificação na EJA também pode ocorrer a qualquer época do ano, como regulamentado pelo Conselho Municipal de Educação.

 

Podem se inscrever na EJA pessoas com 15 anos ou mais. Na rede municipal, oferta-se EJA de Ensino Fundamental, mas há uma única escola de EJA com turmas de Ensino Médio. Trata-se da Escola Municipal Caio Líbano Soares, que funciona no prédio da Secretaria Municipal de Educação. Ela tem turmas de manhã, tarde e noite.

 

 

27/10/2017. Fiscalização na av. Fleming. Fotos: Divulgação/PBH