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Mulheres são maioria na agricultura urbana em Belo Horizonte
Patrícia Nogueira/PBH

Mulheres são maioria na agricultura urbana em Belo Horizonte

criado em - atualizado em

Apesar da invisibilidade do trabalho, mundialmente o papel das mulheres na conservação da agrobiodiversidade, principalmente com a alimentação, tem ganhado destaque. Nas ações da agricultura urbana de Belo Horizonte, a atuação das mulheres e das redes femininas é expressiva. Atualmente, nas Unidades Produtivas Coletivas Comunitárias, mais de 60% do público atendido são mulheres. 

O desempenho se dá tanto em funções operacionais como na gestão, gerando renda e autonomia financeira das mulheres, além de alimentação saudável às famílias e comunidade. Somadas, as áreas de produção atendidas pela Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional, as áreas públicas dedicadas à agricultura urbana ultrapassam mais de 120 mil metros quadrados, espaço onde as agricultoras são protagonistas das vivências e histórias.

Nos últimos dois anos, a Prefeitura de Belo Horizonte investiu mais de R$ 4 milhões no fortalecimento da produção da agricultura urbana agroecológica. Do apoio técnico e suporte na implantação de infraestrutura para o preparo do terreno, subsídio de fornecimento de água, oferta de insumos e ferramentas à capacitação para o uso cada vez mais qualificado dos espaços de cultivo, além da transformação das áreas ociosas em unidades de produção agroecológica.

Atualmente, Belo Horizonte possui 58 unidades produtivas coletivas e comunitárias com 380 agricultores cadastrados, e mais de 200 unidades produtivas institucionais atendidas, que funcionam dentro de equipamentos públicos, como escolas, centros de saúde, Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), entre outros. 

Apoio municipal

Maria Raquel de Jesus, agricultora urbana há mais de 20 anos na Horta Comunitária Vila Pinho, é a primeira de Belo Horizonte legitimada através da declaração de aptidão (DAP) em 2021, ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), e encontrou na Prefeitura de Belo Horizonte o apoio técnico para qualificar o plantio e melhorar as vendas. 

“Tenho o exemplo da minha mãe que plantava alface orgânica, mas o convite para eu ser uma agricultora chegou no momento em que eu precisava de uma ocupação e contato com outras pessoas para superar uma depressão. Ser agricultora traz pra mim uma realização pessoal e profissional e no meu trabalho encontro superação e saúde. As orientações e o apoio técnico recebidos permitiram a ampliação das nossas vendas. Hoje, comercializamos nossos produtos na própria comunidade, nas feiras de agricultura urbana, para a alimentação escolar e participamos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Com a renda da agricultura, meu filho terminou os estudos. É uma renda que garante alimentação completa para a família”, acrescenta. 

Alexandra Assis, 48 anos, é a idealizadora da Horta da Alê, na ocupação Paulo Freire, instalada no Distrito Industrial Jatobá. Segundo a agricultora, um grupo de mulheres decidiu implantar a horta e transformar o espaço que estava ocioso e que servia para despejo de lixo em um local de cultivo de produtos saudáveis e que gera renda. “A mulher tem o poder de construção. Cultivamos hortaliças, plantas medicinais, temperos e ervas. Temos também uma estufa para nossa produção de mudas. Hoje, comercializamos os produtos que cultivamos e os processados por nós, como pimenta, geleia, temperos e xaropes. Vendemos na própria horta e, por indicação de uma mulher que me ajudou e encorajou muito na implantação da horta, iniciamos o projeto de uma CSA, que é a Comunidade que Sustenta a Agricultura. A pessoa se torna um cooperador da horta e por um valor mensal fornecemos duas cestas com sete produtos a cada quinzena. Estamos com um grupo pequeno dentro do nosso limite, mas temos uma renda fixa e certa no mês”.

Mesmo sem comercializar os produtos nas feiras, a agricultora Josyane Cristina, 36 anos, reconhece um ganho no orçamento. Ela é agricultora da Horta Comunitária Alto das Antenas, na região do Barreiro, que em agosto completa 2 anos. “Como é uma unidade de produção bem nova, conseguimos vender apenas uma pequena quantidade na própria horta. A maioria dos produtos que produzimos é para consumo das famílias. Mas cultivar e consumir os alimentos frescos e sem uso de agrotóxicos é um grande ganho, aqui pra gente. Ainda precisamos comprar legumes que não plantamos, mas é uma variedade bem pequena. Comer o que plantamos além de saudável é uma renda que deixa de sair do nosso orçamento, o que no financeiro é muito bom”.

A Prefeitura de Belo Horizonte mantém a articulação em rede com os grupos de agricultoras e agricultores, associações e cooperativas e a sociedade civil, parcerias que permitem a construção conjunta de possibilidades no enfrentamento à fome e promoção da produção de alimentos, fortalecidos pelos circuitos curtos de comercialização, com menos desperdício e menor custo por estar mais próximo ao consumidor.

As unidades produtivas são constituídas por diversos tipos de cultivos e manejos, tais como: hortaliças, frutíferas, sistemas agroflorestais, plantas medicinais, aromáticas, condimentares, as plantas alimentícias não convencionais - PANCs, flores, compostagem, criação de animais realizados de forma integrada e com base nos princípios da agroecologia.

Nestas unidades são promovidas a autonomia na produção agroecológica de alimentos e a construção de novas relações de produção e consumo baseados na economia solidária, o resgate das práticas de cultivo ancestrais, os intercâmbios para trocas de conhecimentos, trocas de sementes e compartilhamento de vivências, primando pelo respeito aos saberes, conhecimentos locais e equidade de gênero.

A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura, Darklane Rodrigues, destaca a importância da política municipal de apoio à agricultura urbana e à agroecologia como ferramenta de protagonismo feminino na segurança alimentar. “A Prefeitura de Belo Horizonte tem construído estratégias para promoção de sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e circulares na cidade, ao mesmo tempo em que promovem a inclusão social e o fortalecimento da economia local na produção de alimentos com estímulos de novas formas de relações socioambientais e governança em rede. Ao reconhecer os conhecimentos e práticas das mulheres na agricultura e na alimentação das famílias, valorizamos sua contribuição na construção de sistemas alimentares sustentáveis e resilientes, fortalecendo sua autonomia”.